Antenor no meio do inferno dos mosquitos em uma lanchonete lotada de gritos, cheiros e crianças. Algumas pessoas eram assim: sempre pelos infernos; com os mosquitos, com as dores, com o azar.
Ele ria – ria como quem sabe rir, como quem poderia ou deveria ser escalado no mais alto dos postos na hierarquia da habilidade de rir: um mestre.
Antenor ria: eu não sei bem de quê. Ria alto e olhando ligeiramente para cima, fazendo resplandecer o suor sobre sua pele negra. À sua volta a família: os filhos, sobrinhos, irmãs, tias, vizinhas.
No entanto, é preciso evitar que se faça o tendencioso engano ao se compreender Antenor: seu riso era sincero. Sua alegria é genuína, vem de dentro. Talvez fosse isso mesmo que o tornasse distinto naquele lugar: o contraste entre seu riso imponente e a miséria inegável que subjugava o resto de nós. Apenas suportávamos aquele inferno; a maioria, pior do que sérios, com sorrisos tortos no rosto. Sorrisos falsos ou, pior que falsos, sorrisos que sinceramente denunciavam, naquela carne, a falta de estrutura.
Mas Antenor ri, ri de verdade e como um mestre. E ao rir ali, é como uma revelação, um apontamento maravilhoso de que há outra direção, existem outras possibilidades.
Seu riso retumba sobre os outros: os carrancudos e os sorridentes. No início é humilhante, como todo reconhecimento de uma ignorância que precede um aprendizado. Depois se torna liberdade: a simples consciência de que existe essa opção.
Não é necessário que riam com ele, apenas passam a saber – no seu silêncio e na sua meia-desatenção – e nunca esquecerão.
Um comentário:
Bárbara, adorei o texto. Foi o que mais gostei. É bom de ler pela clareza e pela consciência. Só tenho uma crítica. Faz tempo q vc ñ publica mais aqui! ;)
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