5 de agosto de 2013

Nostalgia

Resolveu espalhar os papéis por cima da mesa. Os papéis brancos, amarelados, velhos, amarrotados e os mal-acabados e deixá-los ali à disposição de uma brisa cálida e inconstante que atravessava sua janela naquela noite de meio-verão, meio-inverno. A noite também era meio-clara e meio-escura, e ele ali meio-amargo. Meio doce.

Abriu para isso as gavetas e reparou o pó amarronzado acumulado nos cantos, meio passado, meio doce. Deixou as gavetas abertas e meio-abertas, os olhos às vezes meio fechados. Preferia que nada se estabelecesse e tudo fosse fiel: as folhas de papel animadas ocasionalmente pela candura do vento.

Substituíra-se - por um período, mais ou menos conscientemente. Mas se deixava levar no que graças-a-deus não se estabelecia: vinha de algum lugar. Era visitado em semi-luzes de imagens diáfanas e sedutoras, ou melhor, insinuantes. E misturando-se ébrio, se esquecendo bem dos limites, aluviado.

Se deixou ficar ali sentado em sua cadeira de escritório, girando devagarzíssimo sem perceber, os pés meio que dançando a valsa lenta que o embalava, movido na melodia etérea de seus caleidoscópios invisíveis. Eram tudo essas imagens desconfinadas. Meio nada, meio tudo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito,muito fluido. Parecendo uma aquarela.

B disse...

1) Vc poderia trocar o nome do blog para "bicicletaria florianópolis";
2) Era um relacionamento que funcionava: um era fiscal e o outro era fiscal disfarçado. Mas não tinha como funcionar também, com apenas 2 pedaços de pizza.

B disse...

1) Vc poderia trocar o nome do blog para "bicicletaria florianópolis";
2) Era um relacionamento que funcionava: um era fiscal e o outro era fiscal disfarçado. Mas não tinha como funcionar também, com apenas 2 pedaços de pizza.

Felipe Jardim disse...

Belo retrato de uma pessoa cotidiana que senta à frente de um lápis e uma caderneta velha pra escrever sobre suas memórias. Um belo texto.