18 de agosto de 2008

Burocracia

Eu faço estágio em um pequeno escritório onde circulam pessoas variadas com diversos objetivos. A sala que ocupo é uma adjacência do salão central, e nela trabalho a sós. Há uma janela, com uma bela e vasta vista, que sempre abro para que o ar circule.

Naquele dia eu tinha uma grande tarefa a concluir e trabalhava efusivamente, mas não havia deixado de notar que as cortinas, livros e papéis se agitavam anormalmente – o vento, sempre agradável, deveria estar um pouco mais vigoroso.

Continuei muito concentrada em minha produção, sentada à mesa, quando ouvi um tipo de balbucio. Olhei para a porta e lá estava uma de minhas colegas de trabalho. Como nas vezes anteriores imaginei que ela vinha, acompanhada de outras, buscar algumas cadeiras – aquele era um grupo de mulheres, em suas meia-idades, que se reunia semanalmente. 

Porém não pude ter certeza de que era mesmo isso o que ela queria, e receio nunca descobrir. Não consegui ouvir o que ela dizia, apesar do aparente esforço que a expressão em seu rosto suscitava, e reparei ainda que por algum motivo ela se agarrava ao batente da porta. As outras que vinham atrás dela também carregavam expressões contorcidas e se agarravam a pilastras e estantes.

Foi então que me dei conta de que o vento estava realmente forte, soprando seus cabelos e inclusive os meus também. No entanto, a corrente que passava pela porta deveria estar ainda mais forte, pois de repente minha colega foi suspensa do chão e lançada para trás, logo acompanhada pelas restantes. As mulheres atravessaram o salão voando e invadiram a sala seguinte, onde havia um ventilador de teto funcionando – o que achei desnecessário – e uma outra janela, aberta e muito grande. Além disso não pude mais nada constatar, pois logo atrás delas a porta se fechou com um violento estrondo.


Nesse momento senti que o vento diminuiu sua ira, o que serviu para me tranqüilizar. Assim, tendo feito alguma observação corriqueira sobre o que havia testemunhado, eu logo pude prosseguir em minha árdua e absorvente tarefa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá B! Esse evento foi só o início do que escrevi para você.

Kira.

B disse...

Aguardo o restante.